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ESPECIAL - DIA DO ADVOGADO

Drª Gisela Cardoso: Representação feminina em defesa da advocacia e pela interiorização da OAB

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A advogada Gisela Alves Cardoso é a entrevistada desta quarta-feira (21) do Enfoque Business, fechando com estilo a série de reportagens alusiva ao Dia do Advogado, celebrado em 11 de agosto.

Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional de Mato Grosso da (OAB-MT) – Drª Gisela desponta como nova liderança mato-grossense, reunindo várias virtudes à frente de uma entidade que atua em defesa da sua categoria, da sociedade e da Constituição Federal.

Ela traduz em sua trajetória de vida o que disse, recentemente, a executiva Tânia Cosentino, presidente da Microsoft Brasil: “Não acreditem em quem não acredita em vocês (…). Se o resultado for a sua felicidade, abrace a oportunidade”.

Dinâmica e à frente de seu tempo, Gisela Alves Cardoso sempre foi inspiração em sua família, antes mesmo de se projetar na advocacia e na sociedade. Filha do caminhoneiro Augusto Cardoso e da dona de casa Ana Maria Alves Cardoso, é a primeira da família a conquistar o diploma universitário e se diz uma apaixonada pelo Direito.

Veio ainda pequena, com sua família, de São Paulo para Colíder, norte de Mato Grosso. Estudiosa e dedicada, começou dando aula de inglês. Na juventude, trabalhou em diversos empregos até iniciar carreira como bancária. Mudou-se para Capital e estudou Direito. Formou-se em 2001, e trocou a carreira de bancária pela advocacia.

Foi professora universitária por 10 anos, de 2007 a 2018. Tem enorme carinho pela docência, tendo contribuído para a formação de jovens advogados.

É especialista em Direito Empresarial e sócia no escritório Cardoso e Cardoso Advogados.

Há duas décadas na advocacia, faz parte da diretoria da OAB-MT há seis anos. Já foi Secretária Geral Adjunta e vice-presidente da Seccional. Também conduziu a Comissão da Mulher Advogada e participou da Comissão Nacional de Estudos Constitucionais. Atualmente, junto ao CFOAB é a coordenadora adjunta do Colégio de Presidentes Seccionais da OAB no triênio 2022-2024.

Em março do ano passado, recebeu a insígnia de Comendadora da Ordem São José Operário do Mérito Judiciário do Trabalho de 2023. A distinção é concedida pelo Tribunal Regional do Trabalho 23ª Região (MT), a cada dois anos, a personalidades e entidades que prestaram relevantes serviços à Justiça do Trabalho.

Orgulha-se de presidir a Seccional de Mato Grosso neste momento em que a Ordem dos Advogados instituiu a política de paridade de gênero nas eleições de todo o sistema OAB, ampliando a sua representação feminina.

Sua gestão tem sido marcada pela forte atuação na qualificação da advocacia, no combate à violência contra a mulher, no apoio ao jovem advogado, na qualificação da advocacia e na interiorização da Ordem dos Advogados.

Reside em Cuiabá e é casada com o também advogado Marlon Hudson Machado e mãe de João Pedro.

 

O diálogo

 

Redação EB – A polarização se instalou de uma forma muito intensa no ambiente político brasileiro após 2018. Os ideais de direita ressurgiram e a esquerda tem reagido. Isso acaba envolvendo a advocacia, uma vez que isso proporciona o embate ideológico e, muitas vezes, resulta em demandas na esfera judicial. Como a senhora avalia esse momento para a advocacia?

Drª Gisela Cardoso – Advogados e advogadas são cidadãos e cidadãs e, sendo assim, em ambiente democrático, têm todo o direito de se expressar politicamente e, na democracia, é salutar a diversidade ideológica, mas assevero que a Ordem dos Advogados, como instituição, apesar de acompanhar todos os movimentos da sociedade, não pode e nem deve ter ligação política com este ou aquele, com A ou com B, este é um paradigma que deve ser respeitado, porque a nossa instituição pertence à toda a advocacia e não a um partido político ou outro. Em todo o curso da história a forma da Ordem dos Advogados agir socialmente é cumprindo importante papel de ser voz da sociedade. No momento, saliento todo o envolvimento da nossa Seccional com o combate ao feminicídio. Então, em que pese os imbróglios das fases políticas, a OAB segue sendo farol, na defesa do Estado Democrático de Direito e da nossa Constituição vigente.

Redação EB – Outra característica da atualidade que envolve o exercício da advocacia é o ambiente criado pelas “Fake News”. Essa prática tem influenciado de maneira contundente as redes sociais e até mesmo os noticiários e, por isso, tem grande potencial de gerar demandas judiciais. O advogado precisa estar atento a isso e saber fazer a leitura dessa condição cotidiana, já que uma falsa informação, se não identificada, certamente influencia algum processo. Qual sua análise sobre esse tema?

Drª Gisela Cardoso – O fenômeno das fake news é recente, mas já mostrou seus efeitos nocivos. A OAB-MT tem falado sobre isso, através das comissões temáticas envolvidas com o tema, reprovando a prática em quaisquer âmbitos. E tem também inserido esta temática em eventos, para que a advocacia se informe, a cada dia mais, e saiba como agir, caso esteja diante desta questão. 

Redação EB – O Ministério Público tem como função constitucional a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Porém, seus componentes (os Promotores de Justiça) são, muitas vezes, interpretados como ativistas jurídicos e com posturas ideológicas. Temos uma indisposição entre o Ministério Público e a Polícia Militar (em razão da própria atuação da PM em casos de confrontos em várias operações). Portanto, são duas perguntas numa só: Até que ponto essa questão (ativismo e ideologia no MP) pode influenciar o exercício da advocacia e a própria Justiça? Como é, hoje, o relacionamento da advocacia com o Ministério Público?

Drª Gisela Cardoso – O que preconizamos sempre é atuação técnica, seja em qualquer âmbito do sistema de administração de justiça, do qual todos fazemos parte, Judiciário, Ministério Público, Advocacia. E a relação da advocacia com o Ministério Público é, via de regra, muito respeitosa.

Redação EB – Sobre o Judiciário: Há o acúmulo de processos, insuficiência de juízes e estrutura física limitada. Qual a sua avaliação?

Drª Gisela Cardoso – O juiz, o magistrado, é um pacificador social muito importante, especialmente nos municípios menores. Quanto mais distantes do eixo das capitais, mais aumenta potencialmente essa responsabilidade. Então, garantir os juízes nas Comarcas, em todas elas, despachando com a advocacia, influenciando na paz social, é uma das pautas permanentes da OAB-MT.

 

Redação EB – Qual a sua avaliação do papel exercido pela OAB na atualidade?

Drª Gisela Cardoso – A OAB é a maior entidade da sociedade civil brasileira e a Seccional de Mato Grosso acaba de completar 91 anos de história, defendendo a advocacia e, com isso, defendendo também a democracia, o Estado de Direito, o respeito à legislação, à Constituição Federal. Como voz da sociedade, a OAB-MT discute as grandes questões sociais e contribui apontando saídas. Foi assim o trabalho feito pela OAB-MT para resolver os problemas com a concessão da BR-163, é assim com toda a luta que trava para combater o feminicídio. São 69 comissões temáticas. Então a OAB-MT está em muitos espaços da nossa sociedade atuando. Costumo dizer que a OAB-MT é incansável para defender a advocacia e a sociedade.

Redação EB – Quais os principais destaques da sua gestão na presidência da OAB-MT nesses dois anos e meio de gestão?

Drª Gisela Cardoso – Acredito que um dos principais destaques na minha gestão é o acolhimento ao Jovem Advogado, para que chegue ao mercado de trabalho com apoio, porque os primeiros passos não são fáceis. Quando me formei, sem nenhum outro advogado na família, nenhum parente para me indicar para nada, tive que enfrentar a vida profissional com bastante obstinação e busquei a Ordem dos Advogados, para me dar suporte. Então, agora como presidente, tenho um carinho muito especial por aqueles que estão chegando, para que tenham todo apoio e suporte. Também cito o projeto OAB Presente, que é uma forma da instituição Ordem dos Advogados ir até à advocacia onde quer que esteja, ouvir o que ela tem a dizer. Então, saímos em comitiva da Seccional e vamos aos escritórios, na Capital e em diversas cidades de Mato Grosso.

Outro destaque acredito que seja minha luta contra a violência de gênero, seja em ambiente doméstico, o que no limite nos apresenta como o feminicídio, seja no processo eleitoral, em razão de que, nós, mulheres, podemos votar há 100 anos, mas ainda temos muitas dificuldades para ser votadas, para ocuparmos esses cargos eletivos. A luta é grande também contra o assédio moral e sexual, em razão de que esta ainda é uma realidade a ser combatida, com muita coragem. Mais um destaque é a nossa Escola Superior de Advocacia, já entregamos 14 cursos de pós graduação, nesses dois anos e meio, isso nunca aconteceu, isso é histórico. Acreditamos muito em qualificação, atualização, para fortalecer o advogado, a advogada, porque o conhecimento pavimenta o exercício profissional, é o caminho mais profícuo para o sucesso.

Quanto à infraestrutura do Sistema OAB, atuamos junto com as subseções e foram entregues importantes obras para a advocacia do interior, como as novas sedes das subseções de Sinop e Juara e a primeira etapa da nova sede da subseção de Lucas do Rio Verde, entre outras reformas e ampliações em Barra do Garças, Cáceres, Campo Novo do Parecis, Colíder, Juína, Nova Mutum, Peixoto de Azevedo, Primavera do Leste, Rondonópolis e Sorriso. Trabalhamos diariamente para devolver à advocacia, em investimentos, obras e serviços, tudo o que é arrecadado com as anuidades. Essas inaugurações são reflexo desse trabalho. Espaços que vão atender aos advogados e advogadas, com estrutura, sustentabilidade e muita qualidade. Outra coisa importante é a autonomia da gestão financeira das Subseções. Neste período de dois anos e meio de gestão, os investimentos financeiros efetivados pela Seccional às subseções superaram o valor arrecadado em anuidades. Em números, a arrecadação foi de mais de R$ 9 milhões e a entrega que a Seccional fez às subseções de Mato Grosso superou os R$ 12 milhões. O aumento foi de 184% na comparação com o que as subseções recebiam anteriormente, indicando a preocupação da gestão com o fortalecimento e autonomia da gestão financeira da advocacia do interior. Precisamos devolver para a advocacia aquilo que recebemos. E é isso que estamos fazendo. A começar pela advocacia do interior. Outra prioridade e conquista da atual gestão da OAB-MT está no avanço da tecnologia. Hoje, 100% dos processos que tramitam na instituição são eletrônicos. E por aí vai!

Redação EB – Quais os maiores entraves enfrentados pelo advogado no exercício da advocacia?

Drª Gisela Cardoso – A advocacia é uma profissão desafiadora, então os desafios são muitos, diários, agora entraves acredito que um deles seja o próprio mercado de trabalho que é muito competitivo. Por isso incentivamos a qualificação continuada e a atualização constante, para que o advogado e a advogada estejam plenamente aptos a dar as respostas que seus clientes esperam.

 

Redação EB – Hoje a ideologia influencia fortemente a Educação, especialmente no nível superior. Até que ponto isso pode influenciar na advocacia, em sua opinião?

Drª Gisela Cardoso – Temos uma grande preocupação em acompanhar a qualidade do ensino superior, os cursos de Direito. A OAB-MT preconiza o ensino técnico, a devida análise de conjuntura e as percepções sobre a atualidade. Temos ainda o Exame da Ordem.

Redação EB – A senhora acredita que a IA (inteligência artificial) pode comprometer (ou ao menos influenciar) a advocacia nos próximos anos?

Drª Gisela Cardoso – Inclusive já está influenciando e sendo usada também em escritórios, pelo Judiciário, demais atores da administração de Justiça. O debate ético sobre o uso da IA é amplo, tem sido feito com a sociedade, porque atinge diversos setores. Então, estamos atentos a este tema, discutindo em diversos eventos, como já disse incluindo o tema na programação e sabendo que há muitas formas da advocacia se beneficiar sim com a IA, com limites.

Redação EB – Considerando o atual momento (marcado pela polarização, pelos posicionamentos ideológicos, pela politização no ensino e a própria IA), como a senhora vê o futuro da advocacia?

Drª Gisela Cardoso – A advocacia tem seu passado, está viva, ativa, atuante, em destaque, em seu presente e assim estará no futuro,  é a única profissão reconhecida constitucionalmente como essencial para a administração da Justiça. Transformações são naturais do processo de evolução. Estaremos mudados, mas ainda assim essenciais.

Redação EB – Mais alguma consideração, Drª Gisela?

Drª Gisela Cardoso – Agradeço pelo espaço e por contribuir com as reflexões aqui propostas.

(Crédito das fotos: Divulgação)

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ESPECIAL - DIA DO ADVOGADO

Dr. Franco Ariel: Especialista em Direito Civil e do Trabalho, com histórico na docência e OAB

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O advogado Franco Ariel Bizarello dos Santos é o entrevistado do Enfoque Business nesta terça-feira (20), na série de reportagens especiais alusiva ao Dia do Advogado, celebrado no último dia 11.

Natural de Coronel Bicaco (RS), Dr. Franco Ariel é casado com Janine do Amaral Siqueira e é pai de um casal de filhos, Anna Gabrielle e Luiz Filipe.

Mora em Tangará da Serra desde fevereiro de 2001, à época recém formado em Direito pela Unijuí – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Atuou como contratado no escritório Advocacia Bridi e, depois, dedicou-se à docência no ensino superior. Na sequência, montou seu próprio escritório de advocacia.

É pós graduado em Direito Civil e em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho.

Lecionou por 16 anos (a partir de 2003) na Faculdade de Direito Unicen (hoje Anhanguera). Nesse intervalo de tempo também lecionou nos cursos de Administração e Ciências Contábeis da Unemat no Campus de Tangará da Serra, turmas especiais dos respectivos cursos em Juína e Campo Novo do Parecis.

Diretoria da 10ª Subseção – triênio 2019/2021, foto na posse em 17/01/2019.

Foi vice-presidente da OAB 10ª Subseção de Tangará da Serra na gestão 2016/2018) e presidente na gestão seguinte (2019/2021).

Com muita habilidade e diálogo – considerando que à época não havia sido implantado o processo judicial eletrônico(PJE) nas Comarcas de Tangará da Serra, Barra do Bugres e Sapezal – conseguiu juntamente com sua diretoria construir junto ao Poder Judiciário um canal aberto que permitiu a construção de um meio de acesso aos Fóruns para a retirada dos processos físicos, o que proporcionou à advocacia a digitalização dos processos físicos e sua inserção em ambiente eletrônico com vistas à retomada do andamento processual, viabilizando assim meios para a continuidade da tramitação dos processos nas respectivas Comarcas.

Destaca no período de gestão a intensa atuação das Comissões Temáticas presididas por colegas advogados e advogadas na gestão 2019/2021 que implicaram em várias frentes de relevante atuação da OAB nas Comarcas integrantes da Subseção, exaltando a participação de inúmeros colegas nos projetos institucionais, refletindo numa gestão de Ordem coesa e com efetiva participação da advocacia, valorizando toda a classe.

Atualmente está dedicado exclusivamente à sua família e ao seu escritório de advocacia, onde atende principalmente demandas nas áreas cível, trabalhista (servidor público) e previdenciária.

 

O Diálogo

 

Redação EB – A polarização se instalou de uma forma muito intensa no ambiente político brasileiro após 2018. Os ideais de direita ressurgiram e a esquerda tem reagido. Isso acaba envolvendo a advocacia, uma vez que isso proporciona o embate ideológico e, muitas vezes, resulta em demandas na esfera judicial. Como o senhor avalia esse momento para a advocacia?

Dr. Franco Ariel – Penso eu que ao advogado em si, assim como qualquer outro segmento, o embate ideológico dos cidadãos reflete sua opinião, visão e valores da sociedade e da política que vivemos. Obviamente que há situações em que o embate ideológico pode deixar de ser apenas a forma expressão dos cidadãos e implicar em violação de direitos fundamentais, dentre os quais um é a honra e a dignidade das pessoas e nesse aspecto, quando constituído cabe ao profissional da advocacia a busca pela proteção e defesa dos direitos que eventualmente tenham sido violados e sua respectiva reparação.

O embate ideológico em si sempre ocorreu e sempre ocorrerá, todavia creio que passou a ficar mais exposto haja vista o intenso uso das redes sociais, novas formas de interação e comunicação entre as pessoas, de modo que a advocacia o surgimento do litígio acaba por fazer ser acionado o profissional da advocacia de um lado e outro das partes litigantes, sendo o(a) advogado(a) aquele que promoverá a postulação/defesa em nome de seu constituinte, servindo sua prestação de serviço como instrumento com vistas a solução deste conflito no âmbito judicial ou mesmo extrajudicial, sendo importante salientar que constitui dever ético profissional do advogado buscar sempre que possível prevenir litígios e não fomentá-los.

Projeto OAB e a Escola.(Escola Ipes, 17/4/2018- Tema: Carreiras Jurídicas)

Redação EB – Outra característica da atualidade que envolve o exercício da advocacia é o ambiente criado pelas “Fake News”. Essa prática tem influenciado de maneira contundente as redes sociais e até mesmo os noticiários e, por isso, tem grande potencial de gerar demandas judiciais. O advogado precisa estar atento a isso e saber fazer a leitura dessa condição cotidiana, já que um falsa informação, se não identificada, certamente influencia algum processo. Qual sua análise sobre esse tema?

Dr. Franco Ariel – Exato, concordo com a reflexão inicial de que devemos estar atentos e vigilantes principalmente para não acionarmos o Judiciário em vão até porque processualmente falando nossos constituintes podem ser condenados por litigância de má-fé se falseada a verdade.

As “Fake News” representam mais um de tantos problemas que nossa sociedade enfrenta no que tange as informações rápidas que hoje circulam principalmente via internet e cabe a todos nós cidadãos, não só a advocacia, ter a sabedoria em filtrar as informações/notícias recebidas antes de compartilhá-las de modo a evitar induzir as pessoas a erro, bem como evitar que ocorram “julgamentos” precipitados de fatos/reputações pela sociedade e uma condenação prévia tida como o “cancelamento” por condutas, ações/omissões, antes mesmo de uma apreciação pelo órgão competente para analisar o caso noticiado/alardeado.

Registro de reunião com o então presidente do TJMT Des. Carlos Alberto A. da Rocha e o Corregedor Des. Luiz Ferreira da Silva, em novembro de 2019.

Redação EB – O Ministério Público tem como função constitucional a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Porém, seus componentes (os Promotores de Justiça) são, muitas vezes, interpretados como ativistas jurídicos e com posturas ideológicas. Temos uma indisposição entre o Ministério Público e a Polícia Militar (em razão da própria atuação da PM em casos de confrontos em várias operações). Portanto, são duas perguntas numa só: Até que ponto essa questão (ativismo e ideologia no MP) pode influenciar o exercício da advocacia e a própria Justiça? Como é, hoje, o relacionamento da advocacia com o Ministério Público?

Dr. Franco Ariel – Não há hierarquia entre os diversos órgãos/sujeitos que contracenam no processo. Cada qual possui seus deveres, atribuições e prerrogativas. A meu ver a lei de abuso de autoridade é importante para evitar eventual excesso das autoridades constituídas, cabendo ao Ministério Público zelar sempre pelo respeito a lei.  No que tange ao relacionamento entre a advocacia e Ministério Público no âmbito de suas atuações a meu ver deve ser de urbanidade e respeito recíproco, cada qual em defesa dos interesses postos em litígio, em especial respeitando as prerrogativas profissionais de lado a lado.

 

Redação EB – Sobre o Judiciário: Há o acúmulo de processos, insuficiência de juízes e estrutura física limitada. Qual a sua avaliação?

Dr. Franco Ariel – Sim, há um congestionamento  de processos acumulado ao longo dos anos mas os fatores do congestionamento podem estar relacionados a diversos fatores. Vemos que o Processo Judicial Eletrônico representa um avanço no que diz respeito à celeridade processual visto que certos atos processuais hoje são automatizados não dependendo de nenhuma ação humana, mas lógico que a insuficiência de pessoal, juízes e servidores pode influenciar na rápida solução dos litígios levados ao Judiciário.

A falta de pessoal pode estar relacionada a um déficit de servidores e aí a solução é o concurso público para os cargos vagos ou mesmo situações como morte, afastamentos, licenças que acaba por sobrecarregar servidores pelo acúmulo de funções e nesses casos penso que cabe aos tribunais adotar políticas para suprir a falta de pessoal até a retomada das atividades com o quadro completo de servidores. Uma das medidas que tem sido adotadas pelos tribunais é o mutirão itinerante de Juízes substitutos cooperadores e servidores auxiliares para evitar o acúmulo e morosidade processual sendo que na constatação do congestionamento cabe a nós jurisdicionados(enquanto entidade de classe à OAB) demandar nesse sentido para providencias que minimizem o congestionamento processual.

A adoção da política de metas pelo Poder Judiciário e a fiscalização do andamento processual pela própria advocacia individualmente ou via seu órgão de representação(OAB) igualmente é uma forma de constante vigilância quanto à produtividade dos órgãos jurisdicionais. Hoje a Ouvidoria funciona igualmente como uma ferramenta disponível aos advogados e jurisdicionados para promover suas reclamações quanto aos serviços jurisdicionais. Enfim, constatadas deficiências temos que  igualmente nos valer dos mecanismos a disposição para manifestarmos nossa inconformidade quanto a eventual deficiência na prestação dos serviços jurisdicionais sendo que há mais de um século já dizia Rui Barbosa “Justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”.

Minicurso sobre Recursos Cíveis – curso de Direito da Unemat.

Redação EB – Qual a sua avaliação do papel exercido pela OAB na atualidade?

Dr. Franco Ariel – Enquanto órgão de representação classista penso que a OAB sempre deve estar de portas abertas as demandas da advocacia, estar próxima a advocacia e acessível. Creio que o papel da OAB de aproximação com os mais diversos segmentos da sociedade é uma constante e deve sempre haver mas não se pode nunca esquecer que a OAB tem como fim principal servir como escudo para a proteção e defesa das prerrogativas dos profissionais da advocacia e por consequência da proteção e defesa dos direitos dos cidadãos que estejam assistidos por advogado(a), permitindo assim que os profissionais possam exercer livremente, e sem receios, a profissão.

Creio que a OAB tem algumas pautas importantes tais como: enfrentar e cobrar a inclusão em pauta de votação no Congresso Nacional a regulamentação quanto ao porte de arma a advocacia considerando ser uma profissão de risco, estar vigilante e cobrando atitudes firmes do CNJ quanto a apuração e punição de casos suspeitos de corrupção no âmbito do Poder Judiciário e de desídia funcional, buscar meios capazes de facilitar o acesso à justiça no que diz respeito às custas judiciais especialmente no estado de Mato Grosso considerada uma das justiças mais caras do país e, ainda no âmbito do estado de Mato Grosso cobrar a rápida elucidação de crimes de pistolagem(dentre outros) contra advogados e a punição dos envolvidos bem como sempre e em todas as ocasiões posicionar-se firmemente contra todo e qualquer desrespeito a direitos e garantias individuais da advocacia e dos cidadãos.

Dr. Franco na Tribuna da Câmara Municipal, para receber moção de aplausos juntamente com a diretoria da gestão 2019/2021 da 10ª Subseção da OAB.

Redação EB – Quais os maiores entraves enfrentados pelo advogado no exercício da advocacia?

Dr. Franco Ariel – Esse questionamento é de uma amplitude que poderíamos elencar vários, mas eu concentro aqui minha pontuação sobre o jovem advogado, recém egresso da faculdade de direito, recém inscrito na OAB, seja relacionado a afirmação profissional, conquistar a clientela num mercado já repleto de profissionais, encontrar seu nicho de atuação muitas vezes até atuando em áreas que não tinha grande simpatia durante o curso de direito, prospectar clientela, passar a realizar concomitante a advocacia a gestão de escritório, compreender a precificação dos honorários considerando que o advogado não tem salário e enfrentar, juntamente com toda a classe, os problemas relacionados a morosidade na tramitação processual. Ainda assim, no geral entendo que o desrespeito as prerrogativas do profissional da advocacia podem constituir-se como o principal entrave ao livre exercício da profissão do(a) Advogado(a).

Solenidade de inauguração do Fórum da Comarca de Barra do Bugres.

Redação EB – Hoje a ideologia influencia fortemente a Educação, especialmente no nível superior. Até que ponto isso pode influenciar na advocacia, em sua opinião?

Dr. Franco Ariel – Cada profissional possui sua missão, visão e valores. Penso que  o bacharel em direito pode vir a ter em sua formação uma influência ideológica assim como qualquer outra profissão porém hoje com a evolução dos mecanismos de informação as pessoas já não deveriam ser tão influenciáveis, todavia, pela experiência que tive na docência no ensino superior vejo que o ideal é a formação técnica e profissional, desprovida de qualquer ideologia político partidária de modo que assim sempre lecionamos, assim como o exercício da advocacia a meu ver deve ser desenvolvido sem vestes ideológica pois muitas das vezes o cliente nos procura não por nossa formação ideológica mas sim por nossa formação profissional e temos de estar abertos ao atendimento da clientela independentemente de credo, raça, cor, religião ou partido político. Não escolhemos clientes, somos escolhidos por eles a prestar um serviço profissional.

Mobilização pelos 30 anos da Constituição Federal de 1988 – evento promovido pela faculdade de Direito Unic, Coordenação do Curso de Direito e com apoio da OAB 10ª Subseção, em outubro de 2018.

Redação EB – O senhor acredita que a IA (inteligência artificial) pode comprometer (ou ao menos influenciar) a advocacia nos próximos anos?

Dr. Franco Ariel – O uso e afirmação das novas tecnologias é inevitável, inclusive no âmbito do direito e das carreiras jurídicas. Preocupa todavia o uso exacerbado ou indiscriminado pois vejo que pode vir a tornar o intelecto profissional como secundário e de certo modo penso que tal circunstancia igualmente pode vir a vilipendiar a cobrança de honorários advocatícios, comprometendo a justa remuneração dos profissionais.

Reunião com a Diretoria Seccional da OAB/MT.

Redação EB – Considerando o atual momento (marcado pela polarização, pelos posicionamentos ideológicos, pela politização no ensino e a própria IA), como o senhor vê o futuro da advocacia?

Dr. Franco Ariel – O profissional da advocacia precisa a cada tempo reinventar-se. Com o passar dos anos, com a experiência profissional adquirida, com a adequação da legislação as novas realidades sociais o profissional tem que estar a todo tempo buscando a ocupação de novos nichos de mercado que irão surgir. O networking e a troca de experiências com outros profissionais é um instrumento capaz de fomentar novas oportunidades no mercado profissional.

Hoje pouco importa você estar com o escritório fixo numa determinada cidade, você pode atuar em diversos lugares (cidades e estados) ao mesmo tempo o que foi proporcionado a partir do momento em que houve a implantação do Processo Judicial Eletrônico e outros serviços eletrônicos (tais como dos cartórios) ampliando o campo de atuação do(a) advogado(a) que antes limitava-se a uma determinada circunscrição territorial e, assim sendo, vejo positivo o futuro da advocacia com um vasto ambiente para atuação profissional mas isso para concretizar-se depende apenas de um sujeito, o próprio profissional da advocacia.

Nossa profissão é maravilhosa, óbvio que temos nossas dificuldades mas enquanto profissionais liberais temos uma autonomia e independência que nos permite a construção de uma carreira sólida e rentável, tudo dependendo de nossa própria eficiência e qualificação profissional.

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