Por: José Valdeci Cardoso
A pandemia é perturbadora. É um fantasma que assombra, pelo risco que representa a doença, pelo fato de ser acometido por ela e por suas consequências nefastas.
O espectro da Covid-19 também assombra pela crise econômica que provoca, pela quebra de renda, pelo pesadelo do desemprego, pela sensação (talvez, pela certeza) de que o mundo não será mais o mesmo.
Há outros incômodos: A máscara, que parece sufocar. O isolamento social que se impõe como prisão domiciliar. O toque de recolher que tira a liberdade.
O fantasma da pandemia trouxe a todos um tempo de exceção. Não há quem aguente tantas restrições. A liberdade a que os brasileiros estão historicamente acostumados parece ser coisa do passado.
Questionamentos não faltam. Afinal, a máscara incomoda e parece sufocar. O isolamento afasta. Os estudantes não podem ir à aula, os esportistas não podem jogar seu futebol. O toque de recolher passa a impressão de clima de guerra, de opressão.
E o que falar do “absurdo” da “lei seca” nos restaurantes?
Na verdade, há uma grande diferença entre o que se quer fazer e o que convém fazer.
Seria conveniente permitir consumo de bebidas alcoólicas nos restaurantes e, assim, motivar a permanência de pessoas num local em detrimento aos bares que devem ficar fechados?
Também seria conveniente que a demora de uns nos restaurantes em razão do consumo de cervejas e vinhos impedisse que outros tivessem acesso aos serviços do estabelecimento?
Seria conveniente, a despeito dos riscos, que grupos de pessoas se reunissem na Avenida Brasil, aglomerando-se a céu aberto?
Seria conveniente não usar máscaras por causa do desconforto?
Seria conveniente abandonar o distanciamento social e, alheio ao assombro da pandemia, correr riscos?
Seria conveniente entrar na ‘conversa’ da teoria da conspiração e ignorar as normas impostas sob a justificativa de que as autoridades sanitárias da OMS, do país, estado e município querem impor seus autoritarismos goela abaixo da população?
Por fim, seria conveniente ignorar as precauções e, assim, abrir a possibilidade da pandemia esticar sua tenebrosa ocorrência? E, por força disso, se alongar a quarentena, provocar novo fechamento de empresas, ampliar o número de casos e óbitos?
Há algo que convém mais do que apressar o fim desta pandemia, ainda que se sacrificando a liberdade e o conforto social?
Há algo mais desejável que exorcizar o fantasma da Covid-19, retomar o curso normal da economia e recuperar empregos perdidos?
Afinal, o que mais convém nestes tempos medonhos de pandemia? O que se quer fazer ou o que convém fazer?
Que tal perguntar ao “fantasma”?
(*) O autor é cientista de dados e professor de informática.