Faltam praticamente três semanas para virarmos o calendário, mas 2025 ainda guarda espaço para uma conquista importante: o Brasil deve subir mais um degrau no ranking mundial de exportação de carne suína. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal, estamos prestes a ultrapassar o Canadá — que deve encerrar o ano com 1,3 milhão de toneladas embarcadas — enquanto nós avançamos para a casa de 1,4 milhão. Um feito histórico.
Mais que a ultrapassagem no ranking, o que anima é o horizonte. A peste suína que afeta países da Europa e da Ásia deve redirecionar compradores para o nosso mercado. Há quem projete um crescimento de até 4% nas exportações em 2026, superando 1 milhão e meio de toneladas. Boas perspectivas para os suinocultores — que, aliás, seguem firmes ao lado dos bovinocultores e avicultores na liderança global das proteínas animais.
Gargalo em Paranaguá
E já que estamos falando em mercado internacional, há outro movimento importante no tabuleiro. Todos sabemos que o Brasil, apesar de ser uma potência agrícola, ainda é dependente de fertilizantes importados. Por anos a Rússia reinou como principal fornecedora, mas isso mudou. O boletim de insumos de novembro, da CNA, divulgado agora, trouxe a novidade: pela primeira vez, a China assumiu a liderança. Foram 9,76 milhões de toneladas enviadas ao Brasil entre janeiro e outubro, contra 9,72 milhões da Rússia, no mesmo período.
A diferença é pequena, mas suficiente para alterar o ranking — e para causar um engarrafamento monumental no porto de Paranaguá. A enxurrada de fertilizantes chineses provocou filas longas de navios e um tempo médio de espera de 60 dias para o desembarque. Sessenta dias! É mais que o tempo de viagem, de navio, entre China e Brasil, que é de 40 a 45 dias. Um retrato nada sutil da fragilidade da infraestrutura portuária brasileira.
Chácaras: Boa notícia
Mudando de assunto, mas ainda dentro do universo rural, uma boa notícia para quem tem uma chácara de até 2 mil metros quadrados. A Comissão de Agricultura da Câmara aprovou um projeto de lei que classifica esses imóveis como propriedades destinadas à produção agropecuária — seja para consumo próprio ou para venda. Na prática, isso abre portas para linhas de crédito específicas, isenções de taxas municipais e acesso a programas de capacitação e assistência técnica.
É uma mudança simples, mas que pode transformar a vida de muita gente. Nas minhas idas e vindas por Mato Grosso, especialmente durante o Projeto MT Sustentável que realizei com o Canal Rural, encontrei inúmeros produtores que tiram o sustento de pequenas áreas: hortas bem cuidadas, pomares caprichados, criação modesta, mas cheia de dedicação. Para eles, essa lei seria mais que um benefício — seria reconhecimento.
Agora, resta torcer para que o projeto avance na Câmara e no Senado. Em Brasília, muitas coisas demoram; esperamos que este projeto não entre na fila de espera, como os navios lá em Paranaguá.
(*) O autor da coluna, Olmir Cividini, é Bacharel em Comunicação Social pelo Instituto Várzea-grandense de Educação. Seus comentários estão disponíveis no Enfoque Business sempre às sextas-feiras.
O comentário semanal de Olmir Cividini desta sexta-feira (28) sintetiza, de forma contundente, a postura de animosidade do governo federal contra o principal motor da economia nacional.
O governo Lula (PT) não faz questão de esconder sua intenção de retaliar o setor produtivo que mais contribui para a balança comercial e para a solidez da economia brasileira: o Agronegócio.
Ao analisarmos o Circuito Rural desta sexta-feira, a opinião da redação do Enfoque Business é clara: a estratégia do Governo Lula visa a inviabilizar o setor. O objetivo final seria dar início a um processo de conversão das áreas produtivas em propriedades sob o comando do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), alterando profundamente a matriz fundiária e econômica do país.
Na sequência, o conteúdo, na íntegra, do Circuito Rural desta sexta, em texto e áudio.
A demarcação de áreas indígenas voltou ao centro das preocupações do setor agropecuário — e não por acaso. Depois de o ministro da Justiça anunciar que outras dez demarcações devem sair em breve, somando-se às assinadas durante a COP 30 para áreas em Mato Grosso, o clima ficou ainda mais tenso. A sensação é de que o governo decidiu avançar sem freios num tema que exige, antes de tudo, segurança jurídica e previsibilidade.
A semana foi marcada por reações das principais entidades do agro. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) pediu ao STF a suspensão dos decretos até que termine o julgamento do marco temporal das terras indígenas. Para a entidade, a postura do governo atropela um debate que deveria ser técnico e jurídico, não político. Mais que isso: demonstra desrespeito à lealdade processual — palavra que, convenhamos, parece ter sido proscrita do vocabulário institucional brasileiro. Que se manifestem os juristas.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) adotou tom ainda mais duro: vai apresentar notícia-crime contra o ministro da Justiça e o presidente da República. A iniciativa, apoiada por diversos deputados, deve abrir nova frente de embate no Congresso, justamente na semana em que as relações entre Câmara, Senado e governo sofreram um desgaste público sem precedentes, com o rompimento das relações institucionais. A FPA quer que o caso chegue à PGR para verificar se todos os critérios legais foram cumpridos — especialmente no que diz respeito às indenizações.
É nesse ambiente de desconfiança que um episódio recente ganhou força nas redes sociais: em Conquista do Oeste, Rondônia, produtores com títulos definitivos do Incra, escrituras públicas e mais de quatro décadas na mesma terra, tiveram casas queimadas e foram expulsos por ação conjunta da Funai, Força Nacional e Polícias. O caso reacendeu um sentimento generalizado no campo: a percepção de animosidade do governo federal com o agro. Não esqueçamos: o próprio presidente já chamou produtores de “fascistas”. Quando o discurso institucional degrada, a ação costuma vir na mesma toada.
Endividamento
O resultado é um setor que se sente pressionado por todos os lados — e não apenas na esfera política. Os números apresentados esta semana pelo Banco Central à Comissão de Agricultura do Senado escancaram a realidade econômica: a inadimplência do agro é hoje recorde. No Banco do Brasil, o salto foi de impressionantes 456%, saindo de 0,96% em 2023 para 5,34% em 2025. Entre pessoas físicas, o índice chega a 7,9%. Entre grandes produtores, 10,7%. São números que falam por si.
E antes que se tente colar o rótulo de “mau pagador” no agricultor, o estudo traz um dado incontornável: 74% dos inadimplentes jamais haviam atrasado uma parcela. Se trata então de uma crise sistêmica, resultado de juros proibitivos, custos crescentes, queda nos preços das commodities e políticas públicas que chegam tarde — quando chegam.
O dado mais alarmante, porém, é outro: quem financiou 100% do custeio da safra 24/25 teve prejuízo de 2,6%. A conclusão é inevitável — e incômoda: o crédito agrícola, que deveria ser pilar de sustentação e crescimento, virou motivo de falência.
Quando se conectam os fatos — o avanço açodado nas demarcações, o desgaste institucional, a insegurança jurídica e a crise econômica no campo — o cenário é qualquer coisa menos animador. E talvez o pessimismo não seja exagero. Especialistas vêm alertando há tempos sobre os riscos que agora se materializam. Faltou ouvir. Faltou agir. E, sobretudo, faltou entender que mexer com o agro é mexer com o coração que ainda mantém o país de pé. Agora, resta saber por quanto tempo.