Relatório da Instituição Fiscal Independente (IFI) aponta risco de déficit persistente em 2026. Para a CACB, dados reforçam necessidade de gestão mais criteriosa do dinheiro público.
O Brasil deve chegar a 2026 com um quadro fiscal menos favorável do que o projetado pelo governo federal. É o que aponta o Relatório de Acompanhamento Fiscal da Instituição Fiscal Independente (IFI), vinculada ao Senado. Segundo o documento, o cumprimento da meta orçamentária poderá exigir novas medidas de arrecadação, diante da persistência do déficit e da incerteza sobre receitas.
De acordo com a IFI, para alcançar o centro da meta prevista no Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2026 (PLN 15/2025), enviado pela Presidência da República, seria necessário um esforço fiscal adicional de R$ 79,3 bilhões, equivalente a 0,55% do PIB.
A instituição projeta crescimento de 1,7% do PIB e inflação de 4,3% no próximo ano. Já o PLOA trabalha com estimativas mais otimistas: avanço de 2,4% do PIB e inflação de 3,6%.
Segundo o diretor da IFI, Alexandre Andrade, as projeções oficiais contam com expectativas mais favoráveis do que as verificadas pela instituição. “Pelo lado das receitas, a IFI identificou desvios significativos em agregados como receitas previdenciárias e outras não administradas, que dependem de parâmetros macroeconômicos. Além disso, há valores relevantes condicionados à aprovação do Congresso”, afirmou.
Andrade alertou que alterações nas proposições parlamentares podem reduzir a arrecadação prevista, tornando necessárias novas fontes de receita. O relatório também destaca que o Brasil apresenta um dos maiores aumentos na relação dívida/PIB entre emergentes e países da América Latina, e que mudanças frequentes nas metas fiscais comprometem a credibilidade do Estado como sinalizador de solidez fiscal.
Déficit crescente e transparência em debate
As conclusões da IFI encontram respaldo nos números do Gasto Brasil, plataforma criada em 2025 pela Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) e pela Associação Comercial de São Paulo, que acompanha em tempo real os gastos da União, estados e municípios.
Para o presidente da CACB, Alfredo Cotait, os dados reforçam a necessidade de maior rigor na administração dos recursos públicos. “O governo arrecada, mas gasta sem critério. Só neste ano, até setembro, o déficit operacional já está próximo de R$ 1 trilhão acima da arrecadação. É como numa casa: você só pode gastar aquilo que recebe. O Brasil está caminhando para uma situação de insolvência”, disse.
Segundo Cotait, a maior parte do orçamento é destinada a benefícios sociais e previdenciários, de valores individuais baixos, mas que somados pressionam as contas públicas. Ele defende que a transparência oferecida pela ferramenta Gasto Brasil é essencial para que a sociedade acompanhe e cobre maior eficiência do Estado. Até a conclusão desta reportagem, a plataforma registrava R$ 3,7 trilhões em gastos dos três níveis de governo em 2025.
Qualidade do gasto preocupa especialistas
O economista Allan Gallo, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, avalia que o problema não está apenas no volume dos gastos, mas na sua alocação.
“Gastamos mais que a média dos países emergentes, mas com qualidade inferior à dos países desenvolvidos. Mantemos a máquina pública em vez de direcionar recursos a investimentos produtivos, infraestrutura e melhoria do ambiente de negócios”, afirmou.
Na visão de Gallo, sem reformas estruturais — administrativa, tributária e do pacto federativo — o país continuará preso a um modelo de baixo crescimento, sustentado por elevada carga tributária. “Reduzir a arrecadação ou simplificar impostos não basta; é preciso cortar despesas obrigatórias e redefinir o papel do Estado”, acrescentou.
Transparência como ponto de partida
Apesar das diferenças quanto às soluções, Cotait e Gallo concordam sobre a importância de monitorar os gastos públicos. Ambos ressaltam que a transparência promovida pelo Gasto Brasil é um avanço, mas insuficiente diante da necessidade de reformas estruturais.
“Sem mudanças profundas, permaneceremos em um modelo caro, ineficiente e insustentável. A transparência é fundamental, mas sozinha não resolve”, concluiu Gallo.
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(Redação EB, com informações de Brasil 61)