Recuperar microbacias e os passivos gerados pela antropização e restabelecer os mananciais são os grandes desafios para Tangará da Serra neste ano de 2021, após as sucessivas crises hídricas vivenciadas pelo município a partir de 2016.
Para discorrer sobre estes desafios, a cidade recebeu ontem (quinta, 11) a visita do professor e consultor ambiental Jair Kotz (foto acima), ex-superintendente de Gestão Ambiental de Itaipu Binacional. Ele veio a Tangará da Serra palestrar sobre ‘Sustentabilidade Territorial”, a convite das secretarias de Indústria, Comércio e Serviços e de Meio Ambiente do município.
A palestra foi ministrada no auditório da prefeitura, ao final da tarde e contou com o acompanhamento dos secretários de Meio Ambiente, Magno César Ferreira, e de Indústria e Comércio, Silvio Sommavilla, além do especialista e consultor ambiental Décio Siebert, do Instituto Pantanal Amazônia de Conservação (IPAC).
Recuperação de passivos
Já conhecedor de Tangará da Serra e de parte do passivo ambiental do município, Kotz também conversará com a administração municipal sobre a possibilidade de implantar programas de recuperação e conservação de microbacias.
Afinal, o município sofre um processo crônico de antropização que já resulta no encolhimento dos seus mananciais, como é o caso do rio Queima Pé, principal fonte de abastecimento da área urbana.

Rio Queima Pé é um importante manancial que vem sofrendo com a degradação.
Se executados pelo município, os programas se enquadrarão na mesma filosofia do programa ‘Cultivando Água Boa’, implementado sob liderança do próprio Kotz em pelo menos 30 municípios da região de influência da hidrelétrica de Itaipu, no Paraná.
Premiado em 2015 com o Water for Life da ONU – Água como melhor prática de gestão dos recursos hídricos -, o ‘Cultivando Água Boa’ é um conjunto de iniciativas socioambientais baseadas em documentos nacionais e planetários e relacionadas com a segurança hídrica, com a conservação dos recursos naturais e da biodiversidade, e com a promoção da qualidade de vida nas comunidades.
Disposição
O especialista adverte, porém, que tudo irá depender da disposição do município e da comunidade, já que os programas dependerão principalmente, de políticas públicas, parcerias, recursos (humanos e financeiros) e educação. “É preciso avaliar os passivos que foram gerados pela ocupação do ambiente e como a comunidade quer ver o futuro do município”, disse.

Com a impermeabilização do solo, chuvas mais intensas causam transtornos através de enxurradas e alagamentos.
Na palestra que proferiu, Kotz apontou para os problemas que hoje refletem um passivo gerado pela antropização, entre eles a impermeabilização do solo, condição que impede a absorção da água das chuvas, reduzindo a capacidade de restabelecimento do lençol freático. “Parte do ambiente original não existe mais”, disse, mostrando imagens de locais intocados da natureza no município e comparando-as com imagens de áreas antropizadas, como lavouras e, principalmente, o aglomerado urbano, onde as chuvas mais intensas causam transtornos através de enxurradas e alagamentos. “A água segue seu curso. Ou infiltra no solo ou vai embora em forma de enxurradas”, completou.
Neste contexto, Jair Kotz discorreu sobre a identificação dos problemas e, também, como implementar os programas, quais ações a serem adotadas e as formas de participação da sociedade e do poder público.
Adequações de estradas (para evitar enxurradas em suas margens), dispositivos de absorção da água das chuvas, recuperação/conservação de nascentes, preservação de áreas de matas e educação ambiental estão entre algumas das ações previstas.