É evidente que o atraso na semeadura da soja em cerca de um mês traz preocupação em relação à segunda safra – no milho -, que, assim, deverá ser plantado numa janela de risco. Por outro lado, a tendência é de bons resultados na produtividade da oleaginosa.
Para o engenheiro agrônomo Carlos Alberto Pasquini, da Rural Soluções, o plantio da soja agora, em outubro, tende a render bons resultados. “O plantio em outubro aproveita ao máximo o potencial da soja em Mato Grosso… a partir daí, de semana em semana, esse potencial vai reduzindo”, considerou.
Pasquini: “O plantio em outubro aproveita ao máximo o potencial da soja em Mato Grosso”.
Pasquini observa que, ao menos em sua área de atendimento – na região de Tangará da Serra e Chapadão dos Parecis – a semeadura da soja já alcançou entre 70% e 80%. Para ele, a tendência é boa, com produtividade podendo variar entre 60 e 87 sacas/hectare, ao menos com a cultivar Olimpo, de uso mais frequente na região. “É possível se chegar a 75 sacas/hectare, com investimentos”, projeta o agrônomo.
Dupla preocupação
Apesar do otimismo em relação aos resultados esperados com a safra de soja, o atraso no plantio da oleaginosa preocupa e impactará diretamente na segunda safra, com o milho. A apreensão foi externada essa semana pelo presidente da Aprosoja Mato Grosso, Lucas Costa Beber.
Lucas recorda que, ano passado, a semeadura ocorreu em meio a um El Niño intenso, com temperaturas acima da média, o que prejudicou a produção da soja. “Por outro lado, beneficiou o milho porque antecipou o ciclo da soja e readequou a janela para o milho, com as chuvas superando as expectativas para a segunda safra”, considerou.
Lucas Beber: “Teremos perda de produtividade, a não ser que algo fora do normal aconteça”.
Para esse ano, o presidente da Aprosoja destaca que o quadro climático é caracterizado por um La Niña de baixa intensidade, permitindo o desenvolvimento normal da soja, mas fazendo com que o milho seja produzido ou numa janela de risco, fora da janela de segurança. “Teremos perda de produtividade, a não ser que algo fora do normal aconteça e que, com isso, se possa compensar estas perdas, que já estão consolidadas”, previu.
Outro motivo de preocupação é a previsão de falta de milho tanto para o mercado interno como para exportação em 2025. Lucas, porém, vê com otimismo o cenário para o mercado de milho, considerando uma safra normal para o ano que vem. Contudo, se houver uma quebra na safra, a situação será preocupante. “Aí que o problema se agrava, porque o país poderá importar milho para atender o mercado, considerando que a demanda tem crescido tanto no mercado interno como no externo”, observou.
Sobre a soja, Lucas disse que o produtor sempre programa uma adaptação de variedades e que isso envolve o fotoperíodo. “Se inicia com as variedades precoces e semiprecoces (…) e esse ano houve um deslocamento de fotoperíodo, o que ainda é difícil de contabilizar… mas há uma grande probabilidade de perdas na soja devido a esse atraso no plantio de algumas variedades semeadas fora do fotoperíodo para o qual elas se adaptaram ao longo dos anos”, pontuou.
Fertilizantes nitrogenados
Beber destaca, também, a questão dos fertilizantes nitrogenados, que apesar de uma certa estabilidade nos preços, estes continuam altos em razão de instabilidades geopolíticas. “Temos a guerra no Oriente Médio, que tem prejudicado, já que Irã e Israel e outros países daquela região são exportadores de nitrogênio, e o Brasil importa grande parte desse insumo”, analisou.