A agricultura está mudando. Os sistemas orgânicos ou convencionais que utilizam microrganismos produzidos na fazenda – os chamados ‘on farm’ – estão revolucionando a forma de pensar de produtores e técnicos. E também rendendo ‘frutos’ em contas bancárias.
Quando uma adubação é estudada, planejada e bem feita, os resultados podem ser fabulosos e render colheitas extras e de qualidade.
Formado pela Universidade Federal de Santa Maria-RS, o engenheiro agrônomo Carlos Alberto Scapini (CREA-MT 5996/D) é um pesquisador que atua também como consultor junto a produtores, sendo um reconhecido especialista e pioneiro nos novos princípios de recomendação de adubação em plantas que utilizam microrganismos produzidos na fazenda.
Ele concedeu entrevista exclusiva ao Enfoque Business sobre o tema.
Carlos Alberto Scapini: “Devemos dar à Biota um ambiente adequado para sobreviver e, assim, nos auxiliar na produção”.
EB: De que forma o senhor vê a necessidade de se promover mudanças na recomendação de adubação?
Scapini:Os Multiplicados são utilizados de uma forma que atende as doses necessárias, no “time” certo da cultura e da praga. Os custos e a eficiência são muito importantes no uso de agrotóxicos para o controle de pragas e doenças. Entretanto, para o controle biológico, a eficácia depende de uma estratégia mais elaborada, que deve seguir os 5 princípios básicos do manejo: 1) Concordar que temos uma diversidade de problemas no ambiente produtivo. 2) Concordar que não há produtos milagrosos e sim que devemos lançar mão de uma diversidade de soluções dentro do sistema. 3) Antecipação do uso dos biológicos. 4) continuidade no uso. 5) Custo baixo.
Scapini: O uso destas bactérias produzidas na fazenda, usadas adequadamente no solo ou na planta, estão alterando a fertilidade química, física e biológica dos solos, promovendo uma melhor permeabilidade, solubilizando nutrientes, controlando pragas e doenças e fortalecendo as plantas. O método de “tabelinha”, nas recomendações de adubação, precisa ser melhor avaliados, pois quando o produtor melhora a sua Biota, promove alterações significativas na dinâmica dos nutrientes do solo. Como exemplo, podemos citar o estímulo na produção de raízes pelo uso de Promotores de crescimento. Isso faz aumentar o volume de solo explorado, consequentemente melhora a disponibilidade de certos nutriente, principalmente fósforo, Cálcio, Magnésio, e alguns microelementos.
É sabido que certos microrganismos produzem Sideróforos (*) que disponibilizam o Fósforo que está ligado ao Ferro. Trata-se de uma gama enorme de bactérias do bem, fixam nitrogênio, aumentam a quantidade de carbono nas plantas, aumentam as reservas de açúcares e promovem uma melhoria geral no sistema solo/planta. Em plantas perenes, como a goiabeira e a macieira, mas principalmente na videira, são responsáveis pela diminuição do período de descanso e pela manutenção da produtividade e da qualidade da fruta.
(*) Sideróforo é um composto orgânico que atua na captação de ferro pelos organismos como bactérias. De maneira geral, os sideróforos são moléculas orgânicas de, relativamente, baixo peso molecular e que formam ligações estáveis com o ferro do solo, solubilizando-o e transportando-o.
EB: Qual a diferença entre os sistemas de cultivo?
Scapini: O sistema tradicional trabalha em solos mais desequilibrados. O produtor muito pouco se preocupa com a fertilidade biológica. Neste caso, utiliza-se de minerais para resolver desequilíbrios fisiológicos oriundos das interações genético/edafo/climáticas. No sistema com o uso de microrganismos, as plantas sofrem menor stress e, consequentemente, sofrem menores distúrbios fisiológicos. A atuação do complexo de microrganismos sobre os patógenos e sobre as plantas promove maior resistência aos fatores externos.
EB: Por que a adubação deve seguir novos princípios?
Scapini: Muito simples, Com o uso de fixadores de nitrogênio, solubilizadores de fósforo, um maior volume de solo explorado, melhoria da fertilidade biológica e, consequentemente, maior eficiência na absorção de nutrientes, é notório que as adubações atuais, que possuem baixa eficiência, devem ser revistas.
EB: O que acontece dentro do solo que faz ocorrer estas mudanças?
Scapini: O solo, além de químico e físico, também é biológico. Em se tratando de “Biota” (vida do solo) os seres vivos estão constantemente se comunicando, para atrair, inibir, fugir, com a simples finalidade de sobrevivência. É isso que devemos dar a eles, um ambiente adequado para sobreviver e, assim, nos auxiliar na produção. A introdução de bactérias e fungos no solo não acrescenta elementos minerais mas aumenta sua disponibilidade. As células e esporos, aplicados, ampliam sua capacidade de competir com os patógenos. Seus metabólitos, produzidos nos biorreatores “on farm”, são responsáveis por uma boa parte dos estímulos vegetais e redução de danos por pragas e doenças. Portanto, o uso de biológicos no sistema produtivo, é primordial para mitigar os danos causados por uma agricultura que insiste em desequilibrar este sistema tão delicado.
Assista, na sequência, aos vídeos explicativos de Carlos Alberto Scapini.
As datas comemorativas do milho e da mandioca, os números destas culturas, a relação do plantio direto com o sequestro de carbono, a abertura do mercado chinês para o peixe produzido no Brasil, entrevistas e as oportunidades de negócios na Etiópia. Estes são os principais tópicos do conteúdo do Momento Agrícola deste sábado, dia 26 de abril.
De autoria do produtor rural, agrônomo e consultor Ricardo Arioli, o Momento Agrícola é um programa veiculado aos sábados pela rede de rádios do Agro e repercutido em forma de notícias e com podcast Soundcloud pelo Enfoque Business, também aos finais de semana.
Milho
Ao mencionar o Dia Internacional do Milho, celebrado ontem (sexta, 25.04), Ricardo Arioli faz algumas observações sobre a posição do Brasil na produção do cereal. O país é o terceiro produtor mundial e o segundo em exportação de milho. Esses números podem aumentar, caso outros estados do Centro-Oeste, do Norte e Nordeste desenvolvam a produção do milho de segunda safra, como acontece em Mato Grosso.
Arioli fala também sobre as condições climáticas, amplamente favoráveis ao milho com o prolongamento do período chuvoso neste mês de abril.
Mandioca
O Momento Agrícola também cita outra data relevante para o Agro brasileiro: o Dia Nacional da Mandioca, celebrado anualmente no dia 22 de abril. A data festeja um dos produtos mais presentes na mesa e na vida dos brasileiros, símbolo da cultura alimentar do país.
Nativa do Brasil, a mandioca é a base da alimentação de várias comunidades tradicionais e em todo o território do país. Conhecida por vários nomes a depender da região, como aipim e macaxeira, dela derivam diversos produtos que são consumidos diretamente ou utilizados como receitas em todo o país.
Ricardo Arioli traz alguns números e discorre sobre a produção da raiz, que em sua grande maioria ocorre em pequenas propriedades, através da agricultura familiar.
Outras
Outras notícias comentadas no Momento Agrícola deste sábado cita o plantio direto e sua relação com o sequestro de carbono. O programa também discorre sobre o mercado consumidor chinês, que se anuncia aberto para peixes produzidos no Brasil.
Nos blocos com entrevistas e reflexões, Arioli traz como temas “O Cenário da Carne no trimestre”, com Bruno Andrade, do IMAC; “Conheça a Etiópia”, com a Dra. Fabiana Villa Alves, Adida Agrícola; e “Conheça Melhor a Etiópia”, este último numa apresentação sobre a economia e o Agro daquele país do nordeste africano.
Para ouvir o Momento Agrícola deste sábado na íntegra, clique no podcast abaixo.