Processo erosivo denominado “piping” resulta em assoreamento em gruta sagrada para a comunidade indígena e compromete a nascente do rio Bonitinho, em Tangará da Serra.
Uma depressão detectada no solo da Terra Indígena do Formoso, a 86 quilômetros de Tangará da Serra, sudoeste de Mato Grosso, está mobilizando uma equipe de especialistas para evitar danos que seriam irreversíveis a um santuário ecológico e de grande valor arqueológico para a região, além de sua relevância simbólico-espiritual para a comunidade indígena local.
O problema foi constatado após a ocorrência de afundamento (depressão) em uma área na cabeceira do rio Bonitinho, afluente do rio Formoso, um dos principais da região.

A falha (foto acima) foi provocada por um processo erosivo denominado “piping”, um tipo de erosão interna do solo causada pelo escoamento subterrâneo concentrado da água, que remove partículas finas do interior do maciço, formando canais tubulares (pipes) sob a superfície. O fenômeno ocorre principalmente em solos arenosos (como o da TI Formoso), silto-arenosos ou argilosos estruturados.
Trabalhos
O projeto de recuperação será coordenado pelo Instituto Pantanal Amazônia de Conservação (IPAC), através do engenheiro agrônomo e especialista em recursos hídricos Décio Eloi Siebert e sua equipe técnica.

Cachoeiras são atração turística da TI Formoso.
O IPAC conta com apoio/parceria da prefeitura de Tangará da Serra. No próximo dia 30 (quinta-feira), IPAC e agentes da prefeitura visitarão a TI Formoso para apresentar à comunidade indígena o projeto a ser executado.
Os trabalhos serão realizados em duas fases. Na primeira, haverá o diagnóstico das causas do processo erosivo, elaboração do projeto de recuperação da área degradada e ações de cunho emergencial. Na segunda fase, haverá trabalhos de drenagem subterrânea e contenção de águas, entre outras medidas de restauração ambiental.
Valor histórico e riscos
O processo erosivo tem provocado o carreamento de sedimentos que estão assoreando a gruta que abriga a nascente do rio Bonitinho.
Do ponto de vista ambiental, a continuidade desse processo ameaça a estabilidade do solo, acelera a degradação da paisagem e compromete a qualidade da água disponível no entorno. O assoreamento da Gruta pode ocasionar, também, alterações irreversíveis no regime hídrico e na manutenção da biodiversidade associada ao microambiente naquela localidade.

Local guarda evidências materiais de ocupações humanas ancestrais, com valor científico, educativo e cultural de alcance universal.
Sob a perspectiva sociocultural, a gruta possui valor simbólico, histórico e espiritual para o povo indígena. Sua degradação não representa apenas a perda de um patrimônio natural, mas também um impacto direto sobre a memória coletiva, os rituais e a identidade cultural da comunidade, elementos protegidos pela Constituição Federal e por convenções internacionais de salvaguarda dos povos originários.
“A gruta abriga inscrições rupestres, o que a torna um local de grande importância arqueológica e histórica, sendo única na região. Ou seja, há sérios riscos a um patrimônio natural fundamental não apenas para a comunidade indígena, mas também para a sociedade em geral”, observa Décio Siebert. Ele destaca, ainda, que o local guarda evidências materiais de ocupações humanas ancestrais, com valor científico, educativo e cultural de alcance universal.
(Fotos: IPAC)