A cachaça é um produto tipicamente brasileiro e, a sua existência remonta ao início do período colonial, a partir da chegada dos Portugueses em terras tupiniquins.
Conforme observa o historiador Nelson Alves, servidor público municipal de Nova Olímpia, apreciador e talvez o único colecionador da bebida em Mato Grosso, a Cachaça é o primeiro destilado das Américas, tendo surgindo entre os anos de 1516 a 1532 no litoral brasileiro.
“Para falar da origem do mais popular destilado brasileiro, importante frisar que a história registra as primeiras bebidas alcoólicas nos anos 800 a.C. e o primeiro alambique entre os séculos VIII e X. Nas grandes navegações, entre 1490 e 1500, os Portugueses e Espanhóis utilizavam destilados para acalmar os ânimos dos navegadores. A cana-de-açúcar, tem sua origem na Nova Guiné e Índia. Por sua vez, o navegador Cristóvão Colombo introduziu a cana-de-açúcar na República Dominicana e Pedro Cabral trouxe mudas de cana da Ilha da Madeira, da mesma forma que os espanhóis a levaram para a região da Colômbia e México, porém se desinteressaram do cultivo em razão da descoberta do ouro”, cita o historiador.

Nelson e parte de sua coleção: Relíquias que contam parte da história.
Nelson continua relatando que a primeira plantação de cana ocorreu em 1504 em Fernando de Noronha. Resumindo, destaca que em 1516 iniciou o Ciclo do Açúcar no Brasil e, como relata o historiador e antropólogo potiguar Luis da Câmara Cascudo, no livro Prelúdio da Cachaça, “onde mói o engenho, destila o alambique”, ou seja, com a produção de açúcar, naturalmente haveria a destilação da cachaça. “Não há de se dizer que a cachaça foi descoberta, produzida por acidente, acaso, como sugerem algumas lendas, causos da cultura popular. A cachaça, como diz Câmara Cascudo, foi produzida intencionalmente pelos portugueses, já conhecedores dos processos de destilação. Os registros mostram que a primeira destilação ocorreu em uma dessas três localidades: São Vicente (São Paulo) – primeira versão; feitoria de Itamaracá (Pernambuco) – segunda versão e Porto Seguro (Bahia) – terceira versão”.

Rótulos antigos da bebida: Cachaça é a primeira destilada das américas, segundo Nelson.
Ainda, de acordo com os relatos, a partir de 1530, a cachaça foi usada como moeda de troca por escravos africanos e em 1619, com a crise do açúcar, a cachaça se tornou o principal produto do Brasil (Ciclo da Cachaça). Em 1647, a coroa Portuguesa proibiu a Cachaça e em 1660 houve a Revolta da Cachaça. “A produção da bebida foi liberada em 13 de setembro de 1661, data em que se comemora o Dia Nacional da Cachaça (comemoração a partir de 2010). Também devemos destacar que a cachaça foi símbolo da Inconfidência Mineira e da Semana da Arte Moderna de 22”, cita.
E ainda, não se poderia deixar de dizer que a Cachaça é a ‘Mãe’ do Run. “Quando os Holandeses foram expulsos do Brasil, entre 1530 a 1564, se fixaram no Caribe. Lá plantaram cana e produziram o Run a partir do destilado de melaço. Eles também foram responsáveis pela crise do açúcar”, conta.
A primeira cachaça envazada, rotulada e lacrada que se tem registro é a Manjopina, produzida no Engenho Manjope em Igarassu (Pernambuco) em 1756. A Ypioca é a mais antiga marca de Cachaça em produção. Sua fabricação foi iniciada em 1843, na Serra de Maranguape-Ceará. O nome vem da expressão indígena YPI (alegria) e OCA (casa).
Versões da origem
Existem várias versões sobre a origem da cachaça. “Creio que a mais conhecida seja a dos escravizados na senzala produzindo melado, e o vapor da fervura evaporava e ao parar no telhado, condensava e caiu sobre eles. Por se tratar de álcool, ardia no contato com os ferimentos, e eles batizaram de água que ardia, e depois aguardente”, conta.
Outra versão reporta que na feitura do melado, surgia uma espuma, conhecida por cagaça, utilizada para alimentação de bovinos e suínos. A cagaça fermentou e o álcool foi experimentado pelos negros que passaram a beber o líquido. Por ser um subproduto do alimento do cachaço, foi chamada de cachaça.
“São estórias pitorescas da nossa cultura popular e servem para bons papos, principalmente se deliciando com uma boa cachaça, lembrando que em doses comedidas, sem exageros”, diz o colecionador.