A crise enfrentada pela China na suinocultura com o avanço da peste suína africana tem feito o gigante asiático comprar mais carnes do Brasil. É o que preveem especialistas, que apostam numa curva ascendente das exportações para o mercado chinês até 2020, não só de carne suína, mas também de carne bovina e de frangos.
A assunto foi tema do programa Momento Agrícola, apresentado pelo agrônomo, consultor e comunicador Ricardo Arioli Silva, nesse final de semana e publicado pelo Enfoque Business ontem (domingo, 21). Arioli, destacou que a peste suína africana já atingiu mais de 40% do rebanho, segundo informações do governo da China. Com isso, os preços da carne suína dispararam no país asiático, com um índice de 80% em relação ao ano passado. Os efeitos da crise provocada pela peste se fizeram sentir também – em razão do aumento da demanda – nos preços das carnes bovina e de frango, que também subiram entre 19% e 23%, além de contribuir para a alta inflacionária no país asiático.
Governo chinês precisa garantir o abastecimento do seu mercado interno, de mais de 1,3 bilhão de consumidores.
Oportunidades
Mas, enquanto os chineses amargam uma crise aguda num setor vital para a segurança alimentar do seu país, outros países exportadores de carne suína já detectaram grandes oportunidades de negócios.
Os estoques chineses de carne suína estão acabando, e o governo chinês precisa garantir o abastecimento de seu mercado interno, com mais de 1,3 bilhão de consumidores. Para se ter uma ideia, a China lidera a produção mundial de carne suína, com 52 bilhões de toneladas. Despois vem a Comunidade Europeia, com 23,5 bilhões de toneladas, os Estados Unidos com 11,5 bilhões e, em quarto lugar, o Brasil, que produz anualmente 3,7 bilhões de toneladas de carne suína. “Mesmo que todos os países produtores resolvessem exportar carne suína à China, não conseguiriam atender a quebra de 41% na produção chinesa”, observou Ricardo Arioli, no Momento Agrícola.
Arioli destaca que a crise chinesa na produção de carne representará oportunidades também para as carnes bovina e de frango brasileiras. Neste aspecto, Arioli destaca que o Brasil leva vantagem sobre os Estados Unidos em razão do custo de produção da carne bovina. “O Brasil tem um custo médio de produção US$ 2,6 mil/tonelada, enquanto nos EUA este custo bate na casa dos US$ 5 mil/tonelada”, registra o apresentador.
Em 09 de setembro, uma segunda-feira, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina comentou sobre o aumento das exportações à China e a habilitação de 25 plantas industriais brasileiras para enviar carne ao gigante asiático.
Clique abaixo para assistir ao vídeo da ministra sobre as habilitações.
Negócios
Praticamente a metade da carne suína brasileira exportada teve a China e Hong Kong como destino no acumulado de 2019. Enquanto o primeiro responde por 33% da participação, a região autônoma chinesa importa 16% da proteína brasileira. Entre janeiro e julho deste ano, as exportações de carne suína cresceram 30,4%, totalizando US$ 774,57 milhões. Foram remessadas ao exterior 362.842 toneladas ao longo do período. Os dados são do Ministério da Economia.
Apenas a China adquiriu US$ 261,7 milhões em carne suína brasileira. O montante representa acréscimo de 45,2% sobre o que esse mesmo país importou entre janeiro e julho do ano passado. Em 2018, a China já havia ampliado em 202% as importações dessa proteína da indústria brasileira.
Enquanto isso, a região autônoma Hong Kong comprou US$ 123,61 milhões em carne suína do país. Apesar de representar 16% das exportações brasileiras, houve queda de 9,2% na comparação com o mesmo período de 2018.
A tendência é de que as exportações aumentem ainda mais até 2020. Segundo especialistas, a China deve continuar aumentando suas importações de proteínas de origem animal, em função da drástica redução no rebanho suíno causada pelo surto de peste suína africana que o país atravessa.
As importações de carne suína pela China nos primeiros oito meses do ano foram de 1,16 milhão de toneladas, um aumento de 40,4% em relação ao ano anterior.
As importações de carne bovina atingiram 130.619 toneladas, um aumento de 32%, elevando os volumes nos primeiros oito meses para 980.334 toneladas, um aumento de 54% em relação ao ano anterior.
As importações de frango em agosto aumentaram 51% para 67.074 toneladas, com volumes totais até agora este ano em 483.743 toneladas, um aumento de 48%.
A expectativa é de que as importações de carnes aumentem ainda mais, enquanto o Ministério do Comércio afirma que embarques mais fortes e a liberação de reservas de carne de porco congelada ajudariam a garantir o fornecimento.
Entre os países beneficiados pelas maiores importações de carnes pela China está o Brasil, maior exportador global de carne bovina e de frango.
No início de setembro, a China liberou 25 novos estabelecimentos do Brasil para exportar carne ao país asiático. As autorizações envolveram unidades de empresas como BRF, Marfrig e Minerva.
Mato Grosso deve colher 47 milhões de toneladas de soja na safra atual. Em meio a esse volume de grãos, o atraso na colheita em razão das chuvas reflete diretamente no fluxo do escoamento.
A colheita está acelerada, aproveitando as janelas de sol para o trabalho das máquinas nas lavouras. Aí é que vem o problema, na medida em que o estrangulamento da colheita encarece o frete em até 70% em algumas rotas a partir de Mato Grosso e esse ritmo de alta deve seguir nesse mês de fevereiro, segundo especialistas do setor.
Mato Grosso ainda depende muito do modal rodoviário e há poucas opções de ferrovias e praticamente nada de hidrovias. Para agravar o cenário, não há caminhões suficientes para atender a demanda, o que catapulta o preço do frete. Por exemplo, na rota Sorriso-Santos o preço do frete por tonelada subiu de R$ 330,00 para R$ 340,00 em janeiro e, agora, em fevereiro, se aproxima de R$ 500,00. Especialistas preveem que para essa rota o prelo do frete/tonelada chegue a R$ 600,00 ainda nesse mês.
Colheita apertada integra cenário de alta nos preços do frete em Mato Grosso.
Para transportar a soja de Sorriso a Rondonópolis, em 15 dias o frete subiu de R$ 118/tonelada para R$ 205/tonelada. Ou seja, um aumento de 73,7%. Outra opção para descarregamento da soja em trens, na rota Querência-Rio Verde(GO), o frete teve alta semelhante, de 73,9%, saltando de R$ 138/tonelada para R$ 240/tonelada.
Outro gargalo é a insuficiência do sistema de armazenagem, cuja capacidade é de 65% da safra, incluindo as próprias fazendas, as cerealistas, empresas e tradings. O governo, por sua vez, não contribui para uma solução, ainda que disponibilize linhas de crédito para a estocagem nas propriedades através do Plano de Construção de Armazéns (PCA).
Mesmo com disponibilização de R$ 3,3 bilhões pelo PCA a juros anuais de 7% e R$ 4,5 bilhões para armazéns maiores com juros de 8,5% ao ano, o prazo de apenas 10 anos para pagamento são muito curtos para o tamanho dos investimentos.
Por fim, o diesel subiu R$ 0,22/litro nas refinarias. Vale lembrar que o combustível responde por 50% do custo do frete.
As altas verificadas no frete recaem, também, no preço dos fertilizantes.