O país corre o risco de sofrer blecautes a partir do mês de setembro, com interrupções de energia em diferentes regiões. Segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS), o denominado Sistema Interligado Nacional (SIN) está em condição de geração cada vez mais degradada pela chuva escassa no país, fazendo surgir no horizonte um tenebroso cenário de falta de luz.
De acordo com nota técnica divulgada pelo ONS, o sistema elétrico precisará de 5,5 GW médios em geração adicional já a partir do mês que vem para evitar blecautes nos meses de outubro e novembro.
A situação – que refletirá nos lares brasileiros e na atividade econômica – aponta para a necessidade de novos investimentos em geração de energia elétrica, em especial da matriz hidráulica (hidrelétricas) já a partir de 2022, para ampliar a oferta de energia e fazer frente às tendências de crescimento da demanda.
Insuficiência e apagões regionais
Essa semana, o jornalista Luciano Costa, especializado em jornalismo econômico e em temas energéticos, ouviu especialistas que relataram a situação como “extremamente crítica” com riscos reais de desligamento. Eles alertam para a possibilidade do operador nacional ser forçado a realizar alívios de carga regionais, com cortes de luz em partes diferentes do país, para evitar um apagão nacional.

Principal vocação energética do Brasil, geração hidráulica deverá receber mais investimentos para garantir oferta de energia nos próximos anos.
A pedido do Ministério de Minas e Energia, o Operador Nacional do Sistema Elétrico emitiu uma nova nota técnica sobre as condições do SIN até novembro. Nela, os cenários hidrológicos projetados consideram que o volume de água observado em 2021 foi inferior ao de 2020.
A escassez de precipitação resultou na redução de cerca de 2.000 MWmed na Energia Natural Afluente (ENA) do SIN de agosto a novembro. A partir daí, o Operador traçou dois cenários. No primeiro, os principais reservatórios da bacia do rio Paraná chegam ao final do período seco, ou seja, o mês de outubro, com níveis baixos de armazenamento.
Ainda considerando esta situação mais adversa, mesmo com a utilização completa dos recursos hidráulicos do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, com o atingimento da faixa de restrição das usinas da bacia do São Francisco, e com o despacho térmico pleno e transferência de energia do subsistema Norte/Nordeste para o Sudeste/Centro-Oeste, os recursos seriam insuficientes para atendimento ao mercado de energia e demandarão novas medidas no curto prazo.
No segundo cenário do ONS, o atendimento energético é viabilizado a partir da incorporação de recursos adicionais com ganhos de armazenamento e a eliminação de possíveis déficits de geração.
O NOS conclui, portanto, que o já delicado quadro energético atual no país é “sensível” e classifica a situação hídrica do Brasil, neste momento, como a das piores afluências dos últimos 91 anos no Sistema Interligado Nacional.
Presidente pede “consumo consciente”
O presidente Jair Bolsonaro decretou na última quarta-feira (25) que os organismos da administração pública federal deverão reduzir o consumo da energia elétrica entre 10% e 20% entre setembro próximo e abril de 2022, em meio a uma seca intensa que afeta o país.
A decisão, que exclui as dependências dos estados, é uma nova medida do governo para evitar apagões, em um momento em que os prognósticos alertam para uma intensificação da pior seca em 91 anos no Sudeste e no Centro-oeste do Brasil.
Mais de 22.000 prédios públicos próprios e cerca de 1.400 alugados, segundo dados oficiais, terão que respeitar a meta de redução do consumo, estabelecida com base em níveis de gastos energéticos pré-pandemia. A base de comparação é a média do consumo nos mesmos meses de 2018 e 2019, explica o texto do decreto.
Embora a crise hídrica já se reflita em uma alta nos preços da energia elétrica nos lares brasileiros, devido ao uso da energia termelétrica, mais cara, o governo só pediu à população que faça um consumo consciente, evitando medidas de racionamento doméstico.
Bolsonaro reconheceu a gravidade do que identificou como “a maior crise hidrológica”, que pôs o Brasil diante de “um problema sério”.
(Redação EB, com informações de MetSul e ‘O Globo’)