Que a política tem suas contradições, isso é uma verdade das mais antigas. Mas em alguns casos, posturas e discursos contraditórios se convertem em grandes incoerências. É o caso do Partido Social Democrático (PSD), cujo principal líder em Mato Grosso – o senador licenciado Carlos Fávaro – coordenará a campanha do ex-presidente Luís Inácio ‘Lula’ da Silva, do PT.
Segundo veiculado ontem (terça, 12) na mídia estadual, Fávaro (PSD) será o coordenador de campanha em Mato Grosso de Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSB) à presidência e vice-presidência da República. A confirmação teria, segundo informações, ocorrido após uma reunião do senador mato-grossense com a cúpula do PT e PSB, em Brasília.
Foto veiculada na imprensa da capital e nas redes sociais: Aproximação do PSD de Mato Grosso com o PT de Lula.
Com a definição, Fávaro consolida o PSD como partido de esquerda. Ou seja, mais que simplesmente se aliar à federação ‘Brasil da Esperança’, que envolve os esquerdistas PT, PC do B e PV com apoio do PSB, o PSD estará na coordenação do presidenciável petista.
Em Tangará da Serra, o PSD tem como pré-candidato a deputado estadual o ex-presidente do Sindicato Rural, Reck Junior, que a partir de agora, passa a integrar a ala dos candidatáveis de esquerda.
Contra o Agro
Nada há de errado na decisão do PSD em coordenar a campanha do líder petista, já que se trata de uma prerrogativa na linha democrática de uma sigla partidária. O problema (ou incoerência) é que o PSD de Carlos Fávaro e Reck Junior terá de seguir a cartilha do PT, cuja bancada federal é autora do projeto de lei 1586/2022, que prevê a cobrança de imposto sobre exportação de grãos e carnes do Brasil no caso de escassez no mercado interno. Fávaro e Reck, vale lembrar, são ruralistas.
De acordo com a proposta petista na Câmara Federal, a soja, o milho e o arroz teriam a alíquota proposta quando os estoques públicos estiverem abaixo do correspondente a 10% do consumo interno, o mesmo ocorrendo com as “carnes de bovinos, suínos e de frango, em forma in natura, nas situações de ameaças à regularidade do abastecimento interno”.
Em nota, a Frente Parlamentar da Agricultura (FPA) alegou ser contra qualquer taxação às exportações. “Cabe destacar que as exportações são fundamentais para escoamento da produção e para a regulação do mercado. Acreditamos que a proposta irá onerar e desestimular o setor”, consta em trecho da nota da FPA.
Ainda segundo a FPA, a justificativa dos autores do projeto é equivocada. “A problemática apontada não decorre dos níveis de exportação, mas de múltiplos fatores, como o cenário pós-pandêmico, o aumento do dólar, o desabastecimento de insumos e aumentos dos custos de produção e perdas de safras decorrentes de fatores climáticos”.
Reconhecido comentarista de política, o jornalista Alexandre Garcia alertou para o risco que representa o projeto 1586/2022, que poderá colocar o Brasil nas mesmas dificuldades vivenciadas pela Argentina, país vizinho que vive grave crise econômica com seu governo de esquerda, do presidente Alberto Fernández. “Eles estão querendo aplicar aqui o veneno, suposto remédio, que foi aplicado na Argentina; e que acabou com o agro na Argentina, a pretexto de garantir o mercado interno”, disse Garcia.
Possível candidatura
Carlos Fávaro também poderá concorrer ao governo do Estado, em oposição ao governador Mauro Mendes, que deverá tentar a reeleição. Fávaro recebeu convite do próprio PT para ser candidato ao Paiaguás, com o deputado Neri Geller (PP) ao Senado. A candidatura seria apoiada pela federação “Brasil da Esperança”.
Fávaro estaria no que se poderia considerar “zona de conforto”, já que ainda teria mais quatro anos no Senado Federal. Apesar da possibilidade, a tendência é que Carlos Fávaro se mantenha como coordenador da campanha de Lula em Mato Grosso.